Nota da Diretoria
- Maycol Vidal
- 14 de mai.
- 3 min de leitura

Nos últimos meses, o Estado do Rio de Janeiro tem investido na implementação de diversas plataformas educacionais, como a Eureka, FutureMe, Plural e Enem-RJ, com o objetivo de promover melhorias na aprendizagem e ampliar o acesso a recursos pedagógicos. No entanto, o que se observa nas escolas é uma realidade bastante distante desse propósito.
A pouca utilização dessas ferramentas pelos alunos é um fator recorrente. Muitos não se sentem motivados a acessar as plataformas, seja por desinteresse, dificuldades técnicas ou pela ausência de uma proposta que promova interação significativa. As plataformas, em geral, funcionam apenas como repositório de conteúdo, sem estratégias claras para estimular o engajamento e a adesão, o acompanhamento do progresso dos estudantes ou a construção de uma aprendizagem ativa.
O elevado investimento feito nessas plataformas nem sempre se traduz em resultados concretos. Um exemplo emblemático e atual é o da plataforma FutureMe, lançada em parceria com o Estado, com a proposta de aplicar um teste vocacional. Na prática, o teste se mostrou ineficaz, já que os alunos simplesmente selecionavam automaticamente uma profissão, sem passar por um processo reflexivo real. O resultado foi uma ação superficial, sem impacto verdadeiro na orientação de carreira dos estudantes. Além de trazer, indiretamente, eventual promoção de determinados cursos.
Esse cenário se agrava ainda mais quando consideramos a infraestrutura das escolas. Em muitas unidades, as salas de aula não possuem qualquer recurso tecnológico básico instalado, como ponto de acesso à internet, computador, sistema de som, projetor ou tela interativa. Em várias, não há laboratórios de informática ou de programação, tampouco espaços interativos, ambientes de convivência adequados ou laboratórios para as disciplinas de Biologia, Física, Química ou Matemática. Além disso, não há formação adequada e contínua para os professores, nem sequer vestígios da obrigatoriedade de implementação do currículo de computação, o que distancia ainda mais os alunos de um ensino contemporâneo e alinhado às exigências do mundo atual.
Esses recursos tecnológicos, que poderiam ser poderosas ferramentas de apoio ao ensino, estão sendo subutilizados e, em muitos casos, banalizados. A consequência é o desperdício de tempo, recursos e oportunidades de aprendizagem.
Enquanto isso, ações que exigem preparação efetiva e articulada, como a aplicação do SAEB que avaliará as redes estaduais já em outubro próximo, seguem sem estratégias robustas de apoio dentro das escolas.
O mesmo ocorre com a plataforma do Enem-RJ.
Os alunos pouco participam das aulas, realizam as atividades propostas de forma descompromissada e continuam utilizando seus celulares majoritariamente para entretenimento, e não para estudo.
Embora os dados possam mostrar elevados índices de participação dos alunos nas plataformas educacionais, esses números não refletem a realidade do uso efetivo por parte dos deles. Isso porque, apesar de as atividades pontuais serem lançadas e acessadas, muitos estudantes apenas marcam respostas aleatórias em testes objetivos ou escrevem qualquer coisa nas produções textuais, apenas para registrar a participação. Assim, os índices elevados acabam mascarando o real engajamento e a qualidade das interações com as propostas.
Diante desse cenário, é necessário que seja reavaliada, com urgência, a forma como essas plataformas estão sendo implementadas e integradas ao cotidiano escolar. É preciso promover formação para os educadores, criar estratégias de engajamento reais para os alunos, garantir acesso e acompanhamento efetivo e, principalmente, conectar essas ferramentas às necessidades reais do processo de ensino aprendizagem.
Estamos diante de uma oportunidade: transformar um cenário de subutilização e abandono tecnológico em um ambiente de inovação pedagógica real, no qual os recursos digitais e a infraestrutura escolar deixem de ser apenas promessas e passem a ser aliados concretos na construção de uma educação pública de qualidade.
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