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Foto do escritorMaycol Vidal

Amanhã...


Difícil pensar no Amanhã, quando o Hoje é tão triste, quando o Hoje é tão sombrio.

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, ao olharmos para o nosso redor, tudo nos parece tão inóspito, tão adverso, tão cruel, tão solitário. Quando nossos problemas de hoje, quase os mesmos de ontem, parecem nos dizer, que se repetirão amanhã...

Difícil pensar no Amanhã, quando o simples ato de assistir ao telejornal, transformou-se em um exercício de masoquismo, que nos causa sofrimento, vergonha e desesperança.

A realidade, a nossa realidade, parece ter se transformado em uma “casa de horrores”, onde os horrores se sucedem, se multiplicam e se perpetuam.

Difícil pensar no Amanhã, quando o Presente, o Futuro do Ontem, insiste em repetir o Passado, criando não apenas “um museu de grandes novidades”, mas um cenário atroz, de violência, de corrupção, de corrosão social, de destempero, de malícia, de milícia, de ódio e de dor.

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, aqueles que poderiam alterar, de alguma forma, o Futuro sombrio que se anuncia mais próximo a cada Hoje que se sucede, demonstram absoluto intuito e premeditado propósito de destruir esse Futuro possível, perpetuando um Passado de práticas espúrias.

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, o que vemos e ouvimos são palavras de ódio, gestos obscenos, verborragia incontrolada e incontrolável, incapacidade de tolerar, compreender e conviver com o diferente e com qualquer coisa que não se coadune com a torpeza de caráter, com a pequenez de espírito e com os estreitos limites de um intelecto tacanho. Isto é o que se vê e ouve, todos os dias, em um “Hoje” sem fim...

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, vivemos e convivemos com uma violência sem controle. Uma cidade, antes “maravilhosa” que se transformou em palco de atos cada vez mais audaciosos e mais agressivos, numa demonstração do efeito causado, no tecido social, da falta de interesse político, na implantação de medidas que protejam a população da ação criminosa, e na reprodução, em todos os setores da sociedade, inclusive entre os párias meliantes, de uma implícita autorização, e de uma subliminar leniência com o Mal, por parte de alguns setores, hoje, dominantes...

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, diante dos olhos do negacionismo, a natureza se mostra cada vez mais agressiva, como se combatesse, com toda a fúria dos seus elementos - o raio, os mares, as tempestades, os furacões, o calor e o frio excessivos - a infestação humana que corrói suas entranhas. A questão ambiental é hoje o maior desafio já enfrentado pela espécie humana. Para vencermos esse desafio seria necessário, primeiro, resistirmos as nossas maiores tentações: A Cobiça, a Soberba, a Inveja, a Luxúria e a Gula. Mas isso se torna cada dia mais difícil, quando o discurso oficial subverte os valores humanistas, estimulando, justamente, aquilo que se deveria combater, ou atenuar.

Difícil pensar no Amanhã, mesmo sendo fruto de uma geração que cresceu acreditando que o seu Amanhã seria melhor que o seu Hoje. Uma geração que se deixou encantar, por algum tempo, pelo sonho idílico de um país mais igual, mais fraterno, mais civilizado e mais pacífico...

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje, vivo a indagar, se haverá mesmo um Amanhã...

Difícil pensar no Amanhã, quando hoje o que se vê é um asqueroso cenário político, onde a repetição de delitos, a deturpação da lei e dos sistemas de controle, a tentativa de implantar uma identidade total de comportamentos, de opiniões e de ações, impondo a todos um código moral excludente, arcaico e sectário, nos levará amanhã, ou talvez ainda hoje, ao marasmo cultural, ao atraso social, ao retrocesso civilizatório, e por último, a discórdia total.

Difícil pensar no Amanhã, quando o sentimento que prevalece, hoje, em nossos corações, é de um profundo desprezo moral e intelectual, por tudo isso que nos rodeia, hoje...

Difícil pensar no Amanhã.

Mas ainda assim, num vislumbre tênue de um pulsar de esperança, que insiste em latejar, ainda que ofuscado pelas sombras do Hoje, rogo aos céus que a Luminosidade, alheia a todas essas vontades, possa imperar... Amanhã!

Amanhã, se houver Amanhã, mesmo que uns não queiram, seja Ele dos outros que esperam, ver o dia raiar... Amanhã!

Amanhã, se houver Amanhã, que os ódios sejam aplacados, que nossos temores sejam abrandados, e que a nossa Existência, amanhã, se houver Amanhã, seja Plena...

Prof. Almir Morgado

Presidente Emérito da ADERJ.

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